SUBMISSÃO E SOFRIMENTO
1 Pedro 2:13-25
INTRODUÇÃO
Submissão é uma palavra muito complicada para a sociedade de hoje. Ela significa obediência e dependência e para essa sociedade isso seria demonstração de fraqueza, quando vivemos num tempo onde há uma grande procura de mostra força e independência. Porém, o que vamos encontrar hoje nesta passagem da carta de Pedro, é que precisamente um convite à submissão, sendo isto ato de imitação de Cristo.
I. SUBMISSÃO AOS GOVERNOS E TODA ORDENAÇÃO HUMANA (2:13-17)
1.1 Sujeita-te por amor ao Senhor (2:13-14)
“Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana” (2:13a): Pedro apela a que nos sujeitemos a qualquer autoridade estabelecida pelo homem, ou seja, vai para além de qualquer instituição divina (também Paulo o faz em Romanos 13:1 e Tito 3:1). Porém, aqui não nos é dito que nos devemos submeter a toda e qualquer lei criada pelo homem. Mas afinal porque nos devemos sujeitar desta forma? “…por amor do Senhor” (2:13b) e porque há consequências para a falta de submissão. Sendo a principal o facto que a partir do momento em que nos declaramos “cristãos” acabamos por nos tornar como diplomatas, embaixadores do cristianismo (como Paulo refere em Efésios 6:19-20: “embaixador em cadeias”). A falta de sujeição a qualquer autoridade pode acabar por descreditar os ensinamentos de Cristo (sendo que Ele ensinou que nos devíamos sujeitar, da mesma forma que Ele se sujeitou na altura da sua crucificação). Resumidamente, estamos a arriscar representar o nome de Cristo de uma forma errada.
Mas não foi Pedro que desafiou as autoridades em Atos 4:18-20? Desafiaram, mas porque estes queriam-nos obrigar a agir contra a vontade de Deus. Por isso dai podemos tirar que devemo-nos sujeitar às autoridades a não ser que estas nos induzem contra a vontade de Deus (Atos 5:29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”)
“Sujeitai-vos…quer a rei, como superior; Quer aos governadores como por ele enviados para castigo dos malfeitores” (2:13b-14): o rei é a autoridades suprema, o qual elege os governadores. Estes são escolhidos com o fim de aplicar a lei e agir sobre aquele que a desobedecesse. Seguindo o contexto cultural da carta, em 1 Pedro 1:1 vemos que esta é dirigida aos crentes na Ásia Menor. Esta área estava sobre controlo do imperador Nero e seus governadores. Este imperador foi particularmente cruel para com os cristãos perseguindo-os à violência. Mas mesmo assim, as Escrituras ensinam que mesmo debaixo de um governo injusto e infiel, devemo-nos sujeitar.
1.2 Sujeita-te por amor ao Senhor (2:15-16)
“Porque assim é a vontade de Deus” (2:15a): refere-se aos mandamentos que falámos nos últimos dois versículos, os quais sendo obedecidos, encontramo-nos “fazendo bem” (2:15b), ou seja, em boa conduta. Com que propósito? Para que “…tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos” (2:15c) (este é o mesmo homem insensato de Lucas 12:20 “louco”), ou noutra palavras: a fim de silenciar aquele que vive deliberadamente sem temor a Deus. O que podemos tirar daqui é que quando vivemos segundo a vontade de Deus e deliberadamente escolhemos responder positivamente ao tratamento cruel e injusto, o resultado é muitas vezes o silenciamento daqueles que poderiam acusar ou olhar com desprezo os filhos de Deus.
“Como livres” (I Pedro 2:16a): uma consequência da nossa relação com Cristo, onde a sua morte nos libertou da escravidão do pecado e nos fez filhos de Deus (Gálatas 5:1,13). Tendo nós esta liberdade Pedro apela a que “não tendo a liberdade por cobertura da malícia” (2:16b), mostrando que esta liberdade não deve ser utilizada para atos de desobediência, por exemplo, aos governadores, mas antes para atos honrosos “como servos de Deus” (2:16c), observando e aplicando a Sua lei.
1.3 Mostrando submissão a todos (2:17)
Neste versículo, Pedro nomeia quatro atitudes importantes:
“Honrai a todos.” (2:17a): sem restrições e especialmente aos nossos irmãos na fé. Isto porque somos todos criados à imagem de Deus (Génesis 1:26,27).
“Amai a fraternidade.” (2:17b): como vimos em 1:22, devemos amar em particular os nossos irmãos na fé, pois vivemos todos num mesmo mundo com as mesmas batalhas (ver 1 Pedro 5:9).
“Temei a Deus” (2:17c): pois isso traz reverência pela lei e ordenança de Deus. Se trouxermos isso para o contexto cultural da passagem relativo à sujeição às autoridades: rebelião contra Nero é rebelião contra Deus (Romanos 13:2).
“Honrai ao rei” (2:17d): podemos ver esta parte com o clímax, onde Pedro quer se basear nos mandamentos anteriores para dar clareza à necessidade da sujeição e honra à autoridade. Podemos imaginar, o quão isto deve ser complicado, especialmente para aqueles judeus com grande historial sobre a opressão romana.
II. SERVOS, SUJEITEM-SE AOS VOSSOS SENHORES (2:18-20)
Agora Pedro foca-se na submissão do crente a uma autoridade em específico: aos “senhores” ou patrões.
2.1 Sujeitando-se ao bom e ao mau (2:18)
“Vós, servos” (2:18a): naquele tempo a escravatura ainda era uma realidade, mas mesmo não estando nós hoje nessas circunstâncias, esta palavras também se aplicam a nós, aqueles que estão sob um patrão.
“…sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus” (1 Pedro 2:18b): indica-nos novamente para fazer aquilo que já discutimos em 1 Pedro 2:13. Neste caso, apela ao facto que este ato de submissão deve ser aplicado independentemente de o “superior” ser bom ou mau. Ou seja, o carácter do nosso “superior” não deve estabelecer a forma como agimos. Ele diz-nos até para agirmos “com todo o temor”, não para estarmos em constante medo, mas antes para agirmos em obediência e respeito.
2.1 Sujeição aceitável perante Deus (2:19-20)
Pedro acrescenta:
“Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente.” (2:19): não se refere ao padecer por causa da sua religião, mas antes padecer pois quer agradar ao Senhor numa situação injusta onde a nossa carne muitas vezes deseja agir de forma contrária à vontade de Deus. So suportando o agravo estamos a glorificar a Deus. Para os que ainda não estão convencidos, o versículo 20 obriga o leitor a meditar:
“Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus.” (2:20): sofrer pacientemente por fazer o bem é uma demonstração de graça, é nem mais nem menos que o exemplo que Cristo mostrou na sua caminhada redentora para a cruz. Isto sim é agradável ao Senhor.
III. O EXEMPLO DO SOFRIMENTO DE CRISTO (2:21-25)
Nestes próximos versículos vamos fazer a alusão a Isaías 53 quando o profeta profetiza acerca do servo sofredor. Esse servo é Jesus.
3.1 Deixou o Seu exemplo para os crentes (2:21)
“Porque para isto sois chamados” (2:21a): chamados para fazer o bem e para sofrimentos. Jesus menciona esses sofrimentos que vão ser certos em João 15:20 (já Paulo falou muito dessas tribulações. Ver Atos 14:22).
“…pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.” (2:21b): esse é o dever do crente, de seguir as pisadas do Messias, de se submeter sabendo que está habilitado a sofrer injustiças, mas a um bom preço, a fim de glorificar o Nosso Pai.
3.2 Ele sofreu de maneira perfeita (2:22-23)
“O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.” (2:22): isto é o que diferencia de Cristo, pois Ele nunca pecou e não merecia qualquer sofrimento. Pedro faz aqui uma alusão a Isaías 53:9:
“E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.”
“O qual, quando o injuriavam” (2:23a): durante o seu ministério chamaram-lhe de samaritano (João 8:48), glutão, beberrão, blasfemo, endemoninhado, aliado de Belzebu (Mateus 12:23), perversor e enganador da nação. Temos também o momento que estava perante Pilatos em Marcos 14:65 e Marcos 15:4-5. Como é que ele respondeu?
“…não injuriava, e quando padecia não ameaçava” (2:23b): em nenhum instancia respondeu da mesma forma a não ser em João 8:44: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”. Estas palavras, não havendo maldade nelas, vieram a fim de Ele descrever o carácter daqueles que o queriam matar. Continuando, em vez de injuriar, o que fez Jesus?
“mas entregava-se àquele que julga justamente;” (2:23): entregou-se à vontade do Pai, a fim de nos salvar e hoje nos mostrar que precisamos de seguir as suas pisavas e nos submetermos, não dando lugar ao pecado.
3.3 Ele sofreu pelos nossos pecados (2:24)
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (2:24a): uma alusão a Isaías 53:4. Aquele que nunca pecou carregou os nossos pecados no Seu corpo pregado na cruz. Para que nós, estando “mortos para os pecados” (2:24b), ou seja, libertos do pecado por Ele (comparar Isaías 53:5), “pudéssemos viver para a justiça” (2:24c), viver uma vida livre da escravidão do pecado (Colossenses 1:22). Continua, “…pelas suas feridas fostes sarados.” (2:24d), para lembrar como Jesus foi mandado ser “açoitado” por Pilatos (ver Mateus 27:26) e as feridas deles causadas pelo pecado, foram por Ele, Jesus, curadas. Lembremo-nos que as feridas que Ele sofreu são incomparáveis a quaisquer “feridas” que podemos receber no nosso dia, por exemplo, de um superior.
3.3 Ele sofreu por aqueles que se desviaram (2:25)
“Porque éreis como ovelhas desgarradas” (2:25a): afastados do vosso pasto, do vosso pastor e o seu rebanho, e então expostas aos perigos de estar no campo selvagem, no desconhecido, podendo ser destruídos pelas bestas do campo. Ou noutras palavras, estávamos afastados da verdade, da segurança e alegria que somente encontramos no nosso pastor, Jesus Cristo, estando em vez no caminho do pecado, miséria, perdição.
“…mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.” (2:25b): voltaste ao teu Pastor, aceitando a Sua maravilhosa graça. Voltastes da morte para a vida, deixando para trás perdição eterna certa. Tudo graças à maravilhosa graça do Senhor e do enorme sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Graças a Ele, as ovelhas não estão mais perdidas.
CONLUSÃO
Submissão é essencial ao crente. Submissão às autoridades, seja presidente, ministro, patrão, chefe, líder, professor, encarregado, pai, mãe etc… Guardemos a submissão que Jesus escolheu e procuremos aplicá-la com sabedoria na nossa vida, vivem em temor e em tudo dando glória ao nosso Pai.
2023-11-05